Horst Wein ensinou como desenvolver inteligência de jogo

Por Rita Ferro Baptista

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Horst Wein, formador de treinadores e consultor de clubes com o Barcelona, Arsenal e Inter de Milão e de várias federações, sendo um dos mais prestigiados mentores no futebol de formação, deu ontem início ao seminário «Da Rua à Competição – Futebol à Medida da Criança», organizado pelo 1.º Dezembro. 

Na palestra na qual explicou «como desenvolver a inteligência de jogo no futebol», a cerca de 50 participantes, Horst defendeu que o desporto Rei deve «começar na cabeça e acabar com os pés», devendo o protagonista ser o futebolista e não o treinador que, para formar crianças, deve deixá-las jogar.

«Deixem as crianças jogar», sublinhou o formador alemão, lembrando que só se aprende a jogar futebol, jogando e não a fazer exercícios. «Para as crianças jogar é como dormir, é necessário para a saúde física e mental», acrescentou, defendendo a importância de «reconquistar a rua para melhorar o nível do futebol em Portugal e não só». 

Horst defende que para despertar e estimular o potencial inato dos jovens futebolistas é necessário apostar em treinos com jogos simplificados, com três ou quatro jogadores no máximo, que se devem intervalar com exercícios corretivos. «Com mais jogadores as crianças jogam menos e marcam menos», apontou o formador, sublinhando que na rua os jovens não jogam para ganhar mas para marcar, o que ajuda a desenvolver o seu potencial. «Muitas vezes no final nem sabem quanto ficou o resultado, só querem é ter a bola e marcar golos», argumentou.

Depois do primeiro dia de seminário, para este sábado está marcada a parte prática, no campo Conde Sucena, em Sintra, no qual Horst Wein vai orientar treinos de futebol de cinco e de sete, com jogos simplificados e corretivos, com equipas formadas por dois, três e quatro jogadores, sendo as demonstrações feitas com atletas do clube anfitrião, o 1.º Dezembro.

No domingo, haverá uma nova palestra dada pelo formador alemão e um debate sobre as dez características mais importantes do estilo de ensino do modelo ensinado por Horst em relação ao estilo tradicional, antes da sessão de encerramento do seminário, marcada para as 12.45 horas, o Hotel Tivoli Sintra.



 

 

Mestre da formação seduz 1º Dezembro

Sexta, 12 Julho 2010 21:40 Pedro Gonçalves dos Santos

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Horst Wein expôs as suas ideias perante plateia atenta (Foto Carlos Patrão)

A vida desportiva de Júlio Teixeira modificou-se totalmente ao conhecer o modelo de formação de jovens jogadores implementado há quase três décadas por Horst Wein, antigo seleccionador de hóquei em campo, cujo trabalho, desde palestras, a publicação de livros, ou demonstrações em clubes de futebol, já atingiu 55 países, não só ao mais nível, como em casos onde o desporto-rei não é profissional.

Júlio Teixeira, sob coordenação de Mário Rui, foi o responsável pela presença de Horst Wein neste fim-de-semana em Portugal. Ou seja, o 1º Dezembro é o primeiro clube português a seguir o exemplo de gigantes como Barcelona ou o Inter Milão, numa iniciativa em que o DOZE assume presença como «media partner»

«É o futebol estruturado com a alma do futebol de rua», garante Júlio Teixeira, conhecedor de outras escolas de clubes com projecção mundial, como Ajax, Benfica ou Sporting, mas ficou rendido ao talento de Horst Wein.

O alemão iniciou hoje a sua participação no seminário realizado no Hotel Tivoli, em Sintra, perante as presenças de treinadores, estudantes, árbitros, entre outros agentes desportivos, encantados com o discurso produzido. 

Horst Wein pretende incutir a sua acção no futuro, perspectiva já o Mundial de 2022, no Qatar, uma vez que a fase de crescimento desportivo de uma criança «demora aproximadamente dez anos». Contudo, como faz questão de «respeitar o passado», inspira-se no filósofo Heráclito, que viveu entre os anos 535 a 475 A.C. : «Nada é permanente, com a excepção da mudança», referiu o orador

Wein acaba, também, por historiar a evolução do futebol, desde 1860 até aos dias de hoje, onde «nos primeiros cem anos se privilegiava apenas aspectos técnicos», para, depois, projectar o seu sistema. As variantes são diversas, mas a base é composta por quatro aspectos: «O treino tem de se orientado para o jogo; o protagonista deve ser o jogador; os formadores devem apresentar problemas e não soluções; a aprendizagem para o aluno como participante activo».

Futebol em acção

Horst Wein não pretende que o futebol se resuma a teorias e, por isso, o evento deste sábado é marcado por exibições de mini-futebol, futebol de cinco e de sete, com início logo pelas 9:15 horas e final às 19, no complexo desportivo do 1º Dezembro.

No domingo, Wein volta a protagonizar uma palestra, na qual ganha a importância a inteligência no jogo de futebol, seguindo-se de debate relacionado com os estilos de ensino tradicional e  moderno.

Regresso desejado

Júlio Teixeira confirmou que pretende a presença de Horst Wein em iniciativas futuras, o que será asssociado à organização de torneios, inclusive com presença de equipas internacionais, de modo a que se criem receitas importantes para assegurar a participação do notável formador.

 



 Horst Wein: «Portugal devia pensar já no Mundial do Qatar»

Sábado, 13 Julho 2013 15:14 Pedro Gonçalves dos Santos

 

Horst Wein é especialista no futebol de formação, reconhecido nos quatro cantos do mundo, tendo influencado o trabalho de federações como a de Espanha, Itália e de gigantes como Barcelona e Inter Milão.

O alemão, radicado em Barcelona, está, neste fim-de-semana, em Portugal, depois do convite efectuado pelo 1º Dezembro, numa iniciativa em que O DOZE surge como «media partner».

Wein, proveniente do Hóquei em Campo, defende que o nosso país tem de melhorar bastante no futebol de jovem, reconhecendo, também, que há muitos aspectos a rectificar noutras potências na modalidade.

DOZE  – O que significa para si quando o seu trabalho é elogiado por personalidades como Jürgen Klinsmman?

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Horst Wein

HORST WEIN – Disse-me, em 2005, que os processos de desenvolvimento do Hóquei em Campo estão a anos luz do futebol. Ou seja, reconheceu o meu trabalho. Tudo começou quando me encontrava  a estagiar com a selecção de hóquei em campo, perto do Nou Camp, o estádio do Barcelona. Carlos Rexach – antigo jogador, treinador e director-técnico dos «blaugrana», n.d.r. – viu os treinos, começámos a falar e acabei por estar uma semana a ensinar os meus métodos aos treinadores do clube.  Os meus livros são publicados pela Federação Espanhola há 20 anos. O antigo treinador de Xavi, actual jogador do Barcelona, reconheceu o meu trabalho e fiquei satisfeito quando me ligaram a contar que Guardiola tinha comprado os meus livros. Todavia, o meu filho Christian, tricampeão europeu de hóquei em campo, surpreendeu-me quando referiu que, no início, eu não sabia nada. Comecei a pensar, percebi que ele tinha razão, e o meu trabalho alterou-se, ficando mais direccionado para o jogo e para o jogador.

DOZE – Foi fácil adaptar os métodos do hóquei em campo ao futebol?

HORST WEIN – Sim, porque o hóquei em campo é praticado, também, com 11 jogadores. Por isso, apesar das diferenças, a aplicação dos meus métodos não foi complicada.

DOZE  – Quem trabalha melhor no futebol de formação: Real Madrid ou Barcelona?

Horst Wein – Cometem diversos erros, mas o trabalho é semelhante, embora o Barcelona esteja a aproveitar melhor os jogadores na sua principal equipa. Há erros quando se paga, por exemplo, 30 milhões de euros para contratar jogadores comoChygrynskiy. Seria útil que o Barça e outros clubes investissem mais na formação, gastando muito menos dinheiro. Reconheço, também, que o Barcelona aproveita o trabalho de outros clubes quando vai buscar jovens jogadores em diversos torneios. Por isso, o Bayer Leverkusen, por exemplo, não quer voltar a participar, porque receia perder jogadores.

DOZE  – Considera que o excesso de dinheiro no futebol, nomeadamente ao nível de contratações, pode prejudicar o seu e outros modelos de formação? 

HORST WEIN – Isso acontece, porque os dirigentes dos clubes e federações querem resultados imediatos, sem muito trabalho, pois preferem ficarem sentados nas suas poltronas. A forma como agem é, por vezes, «criminosa».

DOZE  – Conhece o futebol de formação do Sporting, bastante prestigiado através do desenvolvimento de jogadores como Figo, Cristiano Ronaldo ou Nani?

HORST WEIN –  O Sporting e os grandes clubes ainda cometem erros, porque muitas vezes a criança joga como se fosse um adulto, em partidas de onze contra onze, quando devia jogar futebol de sete ou futebol de cinco, por exemplo. O futebol é como os sapatos. Ou seja, não se pode calçar uma criança como se fosse um adulto. Devemos deixá-la correr, ter o gosto pelo jogo e estimular o cérebro, o nosso músculo mais importante, para que possa tomar decisões.

DOZE  – O que pensa do futebol de formação ao nível das selecções jovens de Portugal, com alguns títulos conquistados?

HORST WEIN – Portugal devia estar já a pensar no Mundial Qatar, em 2022, e isso não está a acontecer. A preocupação principal é o Campeonato do Mundo no Brasil, em 2014. Refiro-me a 2022, porque o desenvolvimento de um jovem futebolista demora aproximadamente dez anos.

DOZE  – O 1º Dezembro é o primeiro clube português a contactá-lo?

HORST WEIN – Sim, mostraram-se sensíveis às tendências do futuro. Perceberam que o jogador tem de estar em primeiro lugar. Mostraram-se inquietos e sentiram que era importante contactar pessoalmente comigo.

DOZE  – Por que aparecem com tanta frequência jogadores brasileiros com excelentes capacidades?

HORST WEIN – Porque existem as praias e o futebol de rua. O futebol deve ser o renascimento do futebol de rua, mas, neste momento, o Brasil é uma equipa vulgar, como se viu na Taça das Confederações, e não vai ser campeão do mundo.

DOZE  – Mas o Brasil ganhou a Taça das Confederações e o mesmo pode acontecer no campeonato do mundo…

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Horst Wein

HORST WEIN – Ganhou, mas, repito, não vai vencer o Mundial. A equipa só demonstrou talento na final, porque estava a defrontar a Espanha, campeã do mundo. A maior parte dos jogadores está nos clubes europeus e, quando volta ao Brasil, pensa mais no samba do que no futebol e isso não deve acontecer.

DOZE  – Como caracteriza o futebol de formação da Alemanha, o seu país?

HORST WEIN – Estão a melhorar, pois perceberam que alguma coisa tinha de ser feita, porque deixaram de ganhar títulos. O Bayern é uma potência que toda a gente conhece, mas, no futuro, o Hoffenheim, será um dos clubes mais fortes, porque trabalha com crianças desde os dez anos, produzem  muitos talentos e não precisam de gastar muito dinheiro. Em países, como a Arábia Saudita, perceberam que o futebol pode ser, também, uma forma de combater a obesidade, e, na Hungria,a federação já começa a perceber a importância do futebol de formação.

DOZE  – Como descreve o trabalho desenvolvido por si em Itália?

HORST WEIN – Fiquei muito feliz quando Arrigo Sacchi – treinador de clubes como o AC Milan, n.d.r – recomendou o «Futbol a la medida del niño», um dos meus livros, e isso é sinal que o meu trabalho é importante.  Neste aspecto, o UC Albinoleffe tem feito um trabalho muito importante, fornecendo jogadores para o AC Milan, Juve e Inter.

DOZE  – Quais são os seus próximos projectos depois deste fim-de-semana em que tem estado com o 1º Dezembro?

HORST WEIN – Vou trabalhar com o Monterrey, equipa mexicana com história muito importante na CONCACAF, e depois estarei com o Texas Rush, clube de origem norte-americana.

DOZE  – Tem ideias consideradas revolucionárias relativas às regras do futebol de formação. Quais são as principais?

HORST WEIN – O futebol de formação deveria passar a ter quatro balizas, duas para cada equipa, nas extremidades da linha de fundo, com dois guarda-redes e nove jogadores à frente, o que tornaria o jogo muito mais interessante. O sistema de pontuação deveria ser diferente: o que acontece quando o Benfica estiver a ganhar ao Sporting por 2-0 a dez minutos do fim? Começaria a defender, o jogo torna-se aborrecido e os adeptos não gostam. 0-0 não deveria valer qualquer ponto, enquanto o 1-1 ou o 2-2 poderia ser premiado com um ponto. A vitória seria contemplada com dois pontos, mas se a equipa marcar três golos, conquistaria três pontos. Voltando ao exemplo anterior, o Benfica, com este sistema, iria atacar, para somar três, em vez de dois pontos, tal como o Sporting, pois saberia que se marcasse um golo, estaria perto de empatar. O jogo ficaria mais espectacular, sem se gastar muito dinheiro.

O DESENVOLVIMENTO ÓPTIMO DE JOVENS FUTEBOLISTAS – PARTE 1

Hoje começamos com a  Parte 1 de uma série de 9 sobre o desenvolvimento de jovens jogadores. Esperamos que esta série de tópicos te dê bastante para pensar.

Parte 1 – O PLANO

De modo a assegurar o melhor desenvolvimento possível dos miúdos, tens que ter um plano ou modelo o mais detalhado e completo possível para atingir os teus objectivos.
Construir um modelo de desenvolvimento requer que tu:

1) Decidas sobre o estilo de jogo que queres atingir com os miúdos. O futebol moderno, como jogado pela Espanha, Barcelona e outras equipas de topo é baseado no jogo de posse e construção – O Jogo Bonito. Muitas instituições (organizações, escolas, clubes) estão hoje em dia a tentar seguir este bonito estilo de jogar futebol.

2) Uses a Abordagem de Inteligência de Jogo no treino do futebol a todos os níveis. O melhor desenvolvimento possível para o futebol moderno depende não só de elementos físicos, técnicos e tácticos, mas especialmente na leitura e no entendimento profundos do jogo e em melhor tomada de decisões! A inteligência de jogo consiste em 4 fases que devem ser treinadas da mais tenra idade – percepção, entendimento, tomada de decisão e execução. O FUNiño, ou Mini-Futebol, sendo o primeiro passo para um modelo para o melhor desenvolvimento possível, assegura que o futebol começa com a cabeça e termina com os pés, e não ao contrário.

“Progresso significativo no futebol ocorre apenas quando a aprendizagem motora é combinada com a aprendizagem cognitiva!” Horst Wein

3) Construas níveis de desenvolvimento lógicos, progressivos e apropriados às idades de modo a atingires o objectivo final durante um determinado período de tempo. Isto aplica-se não só às competições que as crianças jogam mas também aos treinos.

4) Uses um currículo completo de treino para cobrires todos os aspectos do jogo para cada nível de desenvolvimento no treino. Cada módulo de treino deve estar directamente relacionado com o jogo de competição apropriado à idade que eles jogam!

5) Integres todos os aspectos do jogo (cognitivos, tácticos, técnicos e físicos). No futebol moderno, tens que usar o tempo de treino de forma eficiente e também assegurar que aquilo que as crianças estão a aprender está directamente relacionado com o jogo. A melhor maneira de atingir isto é através de um programa de treino orientado para os jogos em vez de isolar os elementos individuais como é normalmente o caso com exercícios analíticos repetitivos. O Jogo deve literalmente ser o professor, e isto assegura:

Melhor entendimento do jogo de futebol e a capacidade de “ler” o jogo e tomar boas decisões. (Inteligência de Jogo!)

Melhor transferência das capacidades e habilidades para o jogo real.

Um desenvolvimento completo dos jogadores.

Maior eficiência já que se abrangem não só os elementos físicos e técnicos mas também os tácticos e cognitivos.

“O treino tradicional tem sido completamente dirigido para o treinador e largamente orientado para a técnica, enquanto que a ênfase hoje está direccionada para a resolução de problemas tácticos através do jogo.” Lynne Spackmann

6) Assegures que o treino é agradável. De maneira simples, jogos são muito mais divertidos do que exercícios analíticos e exercícios físicos e naturalmente mais motivadores para jogadores jovens!

7) Tenhas paciência! Os treinadores, e pais em particular, têm que deixar que as crianças tenham tempo suficiente para dominar cada passo no longo caminho para se tornarem em homens felizes e com maturidade para além de bons futebolistas.

“A natureza decreta que as crianças devem ser crianças antes de se tornarem adultos. Se tentarmos alterar esta ordem natural, elas vão chegar prematuramente a adultos, mas sem conteúdo nem força.” Jean-Jacques Rousseau

O modelo de Horst Wein tem sido refinado, ampliado e tem-se provado ao longo dos últimos 30 anos com as contribuições de mais de 12.000 treinadores de todo o mundo. Tem sido o modelo oficial em Espanha desde há mais de 20 anos e está a crescer rapidamente em todo o mundo, especialmente em países como a Alemanha e Itália e na América do Sul.

No próximo tópico vamos comparar uma filosofia de desenvolvimento contra uma de ganhar a todo o custo e as implicações para o desenvolvimento de jovens. Nas semanas subsequentes vamos olhar com mais detalhe para outros factores importantes para o melhor desenvolvimento possível de jogadores de futebol.

Tradução: Academia SevenFoot – S. U. 1º Dezembro

 

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